Em dia de jogo eu choro com a entrega do Brasil: Os pobres entregam seus olhos à TV em momentos fugazes de alegria, enquanto seus corpos são entregues aos seus patrões que viajam e se divertem ao vivo em estádios luxuosos e entregam em dinheiro a força de trabalho dos seus subordinados. Enquanto o Brasil entra em campo cantando um hino nacional fajuto que celebra o pseudo-patriotismo canarinho, as estatais brasileiras são vendidas, a saúde e educação dos pobres são congeladas assim como seus corpos em tempo de inverno em suas moradias nada decentes. O pobre nem sabe que seu pão vai ser mais contaminado por agrotóxicos que país nenhum aceita, pois o possível massacre no circo passa a ser mais importante do que qualquer assunto que diz respeito a sua pouca saúde. É que o corpo do pobre precisa de Copa pra descansar porque o país para pra ver futebol e o povo só torce por trégua; o corpo do pobre esquenta quando comemora gol e a barriga enche quando o "bom patrão" coloca uma tela e uma pipoca na mão do torcedor sofrido. A esperança do pobre é de um dia, com pobreza de espírito, conseguir subir na vida pra ser pobre com milhões no banco. Porque tem brasileiro que nunca vai deixar de ser pobre, já que aprendeu desde cedo a aplaudir quem o oprime ou oprimir por ocupar um novo status financeiro. O sorriso no rosto de quem vibra pelos milionários em campo é momentâneo, porque entende o que é impedimento no campo, mas não sabe de onde vem impedimento na fila do hospital impedimento na fila do mercado e no banco da escola. Ri mais alto quem promove o sofrimento real desse povo cansado de mal sabe o que, porque se elege às custas da falta de entendimento dos impedimentos que a vida impôs aos seus eleitores.
Brasil é o país do futebol: Enquanto uma minoria patrocinada e televisionada é aplaudida por dar um show de fazer pouco (às vezes nada) e ganhar muito, milhares excluídos, de fora e de longe, torcem pra ter uma pontinha de prazer nas migalhas de um hexa.
- 02 junho 2018, 8h -