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Não me mande correntes. Repasse!

Pi-pipipipipipipipipi (pausa dramática) pi-pipipipipipi...

Tateio o chão a procura do maldito celular para desligar o despertador que insiste em me trazer para a realidade.

Quando o encontro, aproveito para conferir as mensagens que chegaram em meu aparelho.

Passo o dedo pela tela freneticamente e parece que minhas 4 ou 5 horas de sono duraram milênios pela quantidade de novas mensagens.

No meio das mensagens localizo uma velha amiga. Não sei como ela anda porque não mantemos o contato, mas logo abro a mensagem para tentar matar saudades. Algumas palavras e apago sem terminar de ler:

"Bom dia <3

Hoje é dia das mulheres maravilhosas. Repasse..."

Nos últimos anos, "repasse" passou a ser uma das minhas palavras mais odiadas. Toda vez que a leio, nem acabo o maldito do texto. E não adianta, não vou repassar e não vou ler qualquer corrente que chegue por mensagem de texto, Whatsapp, Facebook, Instagram, sinal de fumaça, pombo correio, carta anônima, telepatia, ou qualquer outra forma de comunicação.

E algumas dessas mensagens ainda vem com ameaças: "Repasse e não quebre a corrente, senão algo de muito ruim irá acontecer!".

Aaah, tá bom... Até parece que algo de ruim vai acontecer!

Levanto da cama para abrir a cortina e esqueço que o celular estava no meu colo.

PAF - celular no chão naquele clássico esquema: capinha pra um lado, bateria pra o outro e, de bônus, com a tela trincada de cima a baixo.

Olho para o céu e penso: "Tá de brincadeira, corrente!".

Abaixo para pegar as partes do meu aparelho esquartejado e ao me levantar sinto aquela fisgada.

Aiiii - coluna dá aquele "bom dia" animado, típico de quem teve uma noite de sono maravilhosa em uma posição confortável no colchão que fica no chão (só que não).

Tudo bem... Culpa minha de não ter comprado uma cama descente. Não tem nada a ver com as correntes que ignorei vindas de todos os lugares, como balas de metralhadora, e que me fizeram brigar e cortar relações com meio mundo (maioria parentes).

Me arrasto até a mesa do computador para deixar o que sobrou do meu celular e pego meu São Raizeiro (maravilhoso creme pra dor feito de ervas e arnica) para passar nas costas. E...

PAF! - Enfio o meu dedinho do pé na quina de 5 cm do inferno, também conhecida como pé da mesa.

Não sei como duas coisas tão pequeninas podem se encontrar com tanta frequência como acontece com meu pé e essa maldita quina.

Acho que já chega né... Faço todas as outras coisas rapidamente para que não dê tempo da maldição das correntes ignoradas não me pegar. Ah, meu celular parece que vai sobreviver!

Sigo para a faculdade e meu celular toca. Uma nova mensagem: mãe.

Olho rapidamente. Afinal, estou com saudades de casa e vai que é algo importante, né?

"Oração ao dia de Santa Qualquer Coisa...

Repasse e receba as graças..."

E a palavra "Repasse" de novo aparece. Reviro os olhos. Não sei quantas vezes já avisei para não enviar essas coisas, porém não dá para brigar com minha mãe e... olho para a frente e vejo o circular passar pelo ponto. O próximo só daqui meia hora. Ou seja, vou ter de escalar um morro com mochila pesada se não quiser atrasar para a aula. Sigo meu caminho e o sol parece ter decidido sair junto comigo de casa. Até porque, desgraça pouca é bobagem.

E assim vai meu dia.

Na aula, as coisas parecem ir um pouco mais normais. Nada de correntes e nada de má sorte.

O sol brilha lá fora e me dá até uma alegria. Parece que esse céu, azul e limpo, me sorri de volta.

Respiro aliviada. Olho na tela rachada do meu celular e nada de correntes.

Dá a hora e decido descer a pé para resolver algumas coisas. Coloco o pé na saída do prédio e um ventinho frio começa a tocar minha pele. Pelo menos o sol ardente não será meu companheiro na volta. Sigo a passos apressados para a descida. Ao tocar o corrimão, uma gota gelada toca bem o centro da minha cabeça.

Chuva.

Já não tenho onde esconder e não dá tempo de correr. Abro a sombrinha e ando o mais rápido que posso.

Chego em casa ensopada. Nem meu rosto ficou à salvo da água gelada da chuva e do banhos de água de enxurrada jogada pelos carros em alta velocidade.

Mas tudo bem, sei que o tempo aqui em Juiz de Fora muda mais rápido do que meu humor. Isso não foi culpa da maldição das correntes ignoradas.

Descarrego a mochila e olho a tela encharcada do celular.

"Boa noite!

Você é uma pessoa especial e terá um desejo alcançado se repassar..."

Solto um palavrão e, eu mesma, jogo meu celular no chão!

Só foi um dia ruim e, por favor, não em mande mais correntes!

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