Vou te contar um causo, de algumas décadas atrás. Não aconteceu comigo, mas é de sabedoria popular.
Era uma manhã de novembro, quando o sol ainda tinha seus últimos tons de laranja. Naquela terra sempre tão quente, ainda fazia frio, pelo menos para os que de lá eram.
Apesar de cedinho, já era hora dos negociantes trabalharem. De chapéu à sapato, de tempero ao próprio animal vivo, animais de carga, leite e corte. Além dos produtos para casa, cozinha ou presente, feitos de metal, barro, couro. Frutos da terra.
Eu era um desses negociantes. Cresci fazendo isso e considero uma arte.
Estava a olhar os animais e esperar por compradores.
_Bom dia! Quanto é esse cavalo. – se aproxima meu compadre José, segurando seu chapéu nas mãos.
_Bom dia compadre! Está 20 mil. – não era reais, na verdade não me recordo a moeda. Não era tanto quanto parece hoje, mas um valor justo para um animal de tanta estima.
_Faz por 15 compadre? – e demos início à negociação.
_18. – ele valia o preço.
_Tudo bem. Mas não tenho todo o dinheiro agora, compadre. - coça a cabeça.
_Não tem problema. Já fizemos negócio antes e você é de casa. 6 mil agora, 6 mil dentro de 15 dias e o restante daqui um mês.
_Negócio fechado. – José me entrega o valor e pega o animal pelo cabestro, levando-o embora.
15 dias se passaram e o compadre chegou no mesmo lugar e horário para pagar o combinado pelo animal. Agradeci e guardei o dinheiro no bolso. O sustento daqueles próximos dias estariam garantidos. E continuei meus negócios.
30 dias se passaram e meu compadre não apareceu.
45 dias, 60… O tempo foi passando e nada. Não sou de cobrar, mas gosto das coisas certas. Algum imprevisto deve ter acontecido com José… O dinheiro fazia falta, mas os outros negócios supriam a necessidade da época.
Um belo dia, chegando em casa de mais um dia de trabalho e ainda no lombo do cavalo, vejo José me esperando na varanda.
_Boa noite, compadre! – comprimentou.
_Noite! – desço do animal.
_Vim trazer o dinheiro que faltava do animal. 6 mil. Peço desculpas pela demora. – envergonhado, meu compadre me passa o dinheiro e o guardo em meu bolso.
_Não tem pelo que se desculpar compadre. Dinheiro e chuva, toda hora que chega, chega bem. – sorri.