Era um dos dias mais decisivos e aguardados da minha vida. Aquela prova mudaria tudo.
Há alguns meses, decidi que tentaria a prova da pós-graduação. É um grande desejo continuar a estudar e depois, quem sabe, ajudar a formar novos profissionais de comunicação, talvez melhores e mais comprometidos com o futuro desse país.
Foram semanas de estudo, muita leitura e dedicação. Enfim, chegou o dia da primeira etapa da seleção: a prova específica. Nela, eu e meus novos companheiros (Bourdieu, Thompson, McLuhan e Williams) teríamos de conversar com outros companheiros já conhecidos.
Recebo a prova e agora somos somente os autores, ela e eu.
_Quem você pensa que é para fazer essa prova? - escuto uma voz feminina muito familiar.
Olho para os lados e todos na sala estão fazendo suas provas em silêncio. Deve ter sido alguém lá fora, imagino.
_Você não vai conseguir... - ri e zomba a mesma voz.
Novamente olho em volta e parece que ninguém mais ouviu o que acabei de ouvir.
_Ei! Você mesma! Estou falando com você! - insiste.
Olho para a prova, tentando me concentrar de novo, mas todas as letras na minha frente parecem não fazer sentido mais. Nesse momento, percebo que a voz fala só comigo, só eu posso ouvi-la porque... ela está na minha cabeça.
_Eu? Quem é você? - penso sozinha comigo, enfrentando-a.
_Eu sou você, uai. E estou aqui para te alertar, colocar seus dois pezinhos no chão! Você não vai conseguir! Você não é capaz nem de entender as questões, quanto mais fazê-las. - me desafia.
_Mas estudei, me dediquei. Não deve ser tão difícil quanto você diz. - e o tempo parece parar enquanto a discussão flui.
_Não foi o suficiente! Olha ao seu redor! Olha quanta gente boa também está aqui e você acha que vai conseguir?
Olho ao redor e, realmente, são muitas pessoas, cada uma com sua história, capacidade e seus resumos bem organizados. Acho que realmente não tenho muita chance.
_Eu te disse que não teria. Por que continuar a fazer essa prova? - A voz me ouviu, leu meus pensamentos... Na verdade, ela também faz parte deles.
Minha cabeça começa a doer, a testa queima e toda a transmissão cerebral parece se acelerar fora do comum.
_Mas eu estudei e não me custa tentar. - respiro e tento por um ponto final na conversa.
A voz ri debochada e reforça: Você não vai conseguir.
É aí que decido silenciá-la. Fecho os olhos e respiro o mais devagar que consigo. Guardo meus resumos e começo a ler questão por questão, já anotando o que elas me fazem pensar. Se estudei, li os livros e me preparei, alguma coisa deve sair.
Volto meu olhar para a prova, ela me encara de volta e até sorri. Acho que não será tão ruim quanto pensava.
Semanas depois, o resultado: passei! E, mais uma vez, provei para mim mesma do que eu era capaz.
E você pensa que a voz foi embora? Que nada! Ela vem todos os dias, principalmente, nos momentos mais importantes. Ela provoca, cria dúvidas. E, como boa ariana que sou, adoro um desafio!
Ela continua e está aqui agora, enquanto escrevo esse texto...
Um eterno: Eu versus eu mesma...