Eu te conheço por completo e talvez mais do que você mesmo.
Estou com você desde que nasceu. Às vezes, adormecida e quieta, mas ali, esperando o momento oportuno para aparecer. Sempre na espreita, espero a oportunidade ideal para vir à tona. E, quando apareço, você me nega, finge que não me vê e não me dá a importância que mereço.
Eu chego de mansinho. Uma pequena angústia ao dormir, porque o dia seguinte vai ser intenso ou haverá um compromisso importante. Um pensamento negativo que fica se repetindo em sua mente, talvez medo...
Aos poucos vou tomando conta da sua cabeça... Você já não dorme mais direito, a insônia aparece. As dores de cabeça começam a vir também. Roubo seus sonhos felizes e de esperança. Trago pesadelos, noites em claro e uma mente acelerada que insiste em não desligar. Sua testa começa a faiscar de tão intenso os pensamentos, não te dou mais paz.
Faço você sentir uma angústia gigantesca, uma falta de controle sobre sua vida e o universo jamais vivida, tudo parece começar a sair dos eixos. Mas você insiste em não me ver, não assume que existo ou que posso ser sua companheira.
Afinal, o problema dos outros são sempre maiores do que os que sua mente cria.
Você pode não ter me quisto, desejado ou passado na minha fila de distribuição. Entretanto, eu te escolhi.
O tempo vai passando e os sintomas, antes apenas psicológicos passam a alterar o funcionamento da sua primeira morada, seu corpo perde o controle.
Espero que agora me note!
Estou presente com você as longas e intermináveis 24 horas do dia. Agora, não passo mais só para dar um "oi" ou "até breve".
Chego pela manhã e já me instalo. Você acorda com pensamentos que não são seus (quando você consegue dormir) e que te destroem. Você come para aliviar, buscando a sensação de prazer momentânea e isso não me afasta. Ou rejeita o alimento, colocando-o para fora, como se fosse de mim que quisesse se livrar. Pobrezinho, estou em você mais do que imagina e ganhei um espaço impossível de ser tirado do dia para a noite.
Você treme, se esconde, seu coração palpita, a respiração acelera. Você grita com quem é mais próximo e não tem culpa do que eu te causo, todavia, você não tem controle sob isso mais. Você se cala, chora, sente-se impotente. Eu roubo sua vontade de fazer o que mais ama, de cumprir sua rotina, de exercer todas as atividades de sempre.
E, quando chega a noite, você tem medo de dormir sozinho e ter de lidar comigo. Seu corpo se contorce na cama, passeia pela casa, enquanto sua mente vê e se preocupa com os monstros que eu alimentei.
Chega o momento que faço você sentir que nem esse corpo é seu. Você não se enxerga mais como verdadeiramente é.
A vontade de se abandonar, sair sem rumo e sem destino crescem e, pode ser que você não resista a tudo isso e abandone de verdade seu próprio corpo.
Posso te fazer esquecer algumas coisas, roer as unhas e puxar cada cutícula dos dedos da mão. Você pode até segurar uma faca com alvo certo, desejar tomar alguns remédios e se machucar.
As pessoas não me dão a importância que mereço e, em alguns casos, discriminam ou menosprezam aqueles os quais acompanho. Não fechem os olhos para mim! Eu sou real, mais real do que imaginam. Sou pior do que qualquer coisa que acometa só o organismo, porque eu começo na sua mente. Ganho espaço aos poucos. Chego como quem não quer nada e assumo o controle dos seus pensamentos, relacionamentos, trabalho, estudo, rotina, corpo, saúde e vida.
E, se não bastasse eu me mudar para dentro de você e passar a trabalhar em período integral, com hora extra e adicional noturno, trago comigo uma outra parceira. Como em um cordão umbilical, interligada e quase impossível de se desassociar de mim, cedo um espaço da minha cama para a depressão.
No meio dessa minha escalada, as vezes aparece alguém para me atrapalhar. Alguma boa alma, que provavelmente gosta de você, e te abre os olhos sobre a minha presença. Diz que estou aqui e que tudo isso é minha culpa.
Faz você se cuidar e aprender a lidar comigo.
Afinal, jamais vou sair da sua vida, mas posso adormecer, ficar sob controle e ceder a seus comandos.
_ Prazer... Desculpe me apresentar só agora, mas é que você levou um certo tempo para se dar conta e aceitar a minha presença. Sou a Ansiedade. Lidar comigo faz parte de um processo e, se não for no início, torna-se um processo árduo e contínuo. Mas, dependendo de como você me alimentar e me tratar, posso adormecer e você, novamente, nem irá notar a minha presença aqui... dentro.
Se você tem algum desses sintomas ou passa por algum tipo de transtorno mental, não espere, não se cale e procure ajuda!
Converse com seus amigos, parentes, companheiros, pessoas mais próximas.
Não é vergonha pedir ajuda, o que você sente merece atenção e cuidado. Você merece atenção e cuidado!
Existem grupos de apoio, plantão psicológico em Universidades, escolas e o próprio CRAS (Centro de Referência Assistência Social) da sua cidade pode oferecer serviços de assistência psicológica.
Além disso, o CVV (Centro de Valorização da Vida) realiza apoio emocional e atua na prevenção do suicídio. No site e em diferentes plataformas você pode ser atendido gratuitamente, conversar, se informar e procurar ajuda.
Lembre-se sempre que o tratamento é um processo. Alimente-se bem, faça atividade física e cuide da sua mente. É uma luta diária feita de momentos bons, outros nem tanto, mas com o tempo você poderá ter uma vida normal e alcançar seu equilíbrio interior.
Acredite e leve um dia de cada vez!
