São 90 anos, não 90 segundos, mas se parar para pensar mais parecem 90 dias atrás... Eu lembro de tudo! São tantos os assuntos e histórias de vida...
Eu vi comércio virar cidade e mudar de nome:
Fortaleza virar Pedra Azul;
Vigia ser chamada por Almenara;
São Roque mudar para Itaobim;
Taporé, nome bonito até, ser chamada de Coronel Murta;
São Domingos mudar de santo e ser conhecida por Virgem da Lapa;
Kiau, nome de pedra, tornar-se o "Rio das Araras Grandes", nossa Araçuaí;
Filadélfia ganhar nome de Teófilo Otoni;
Santa Rita perder o nome da santa para virar Medina;
São Miguel ganhar um nome que representa a cultura e história local, Jequitinhonha;
Sucruiú ser denominado por Francisco Badaró;
Águas Vermelhas ser Padre Paraíso;
São Bento mudar para Novo Cruzeiro e ganhar até música, porque a mudança ao povo não agradou se não me falhe a memória (São Bento quando emancipou/ o povo não agradou/ o povo saiu de perto e nunca mais voltou...)
Ser compadre era de batismo e também de pular fogueira.
Vi a carta ser substituída pelo telefone (e que invenção boa demais da conta). Hoje dá até pra ver as pessoas de outra cidade pelo telefone! Não existe desculpa pra ligar, todo mundo tem telefone e se não tem, qualquer esquina tem orelhão!
Vi aparecer o rádio e depois a TV e essas companhias reunirem familiares, amigos e vizinhos em torno dos aparelhos nas salas. Hoje, a TV é uma companheira em tardes solitárias e me mantém informado de tudo o que se passa no mundão lá fora (inclusive da vida dos artistas).
Eu vi pontes serem construídas e as canoas diminuírem. Os rios cheios de água e cachoeiras, cheios de vida, navegantes e pescadores, virarem riachos possíveis de se atravessar a pé.
As estradas de terra batida, ganharam asfalto e as viagens por dias a fio à cavalo, ou nos trilhos de um trem, agora são feitas rapidinho de carro e até avião.
Uns dizem que esse mundo não é bom, mas acredito que tudo foi feito com perfeição e posto nas mãos do homem para que esse se desenvolvesse e pudesse ajudar os outros. E cada um tem sua função e merece respeito por ela, seja ele médico ou peão, advogado ou vaqueiro! Cada um no seu lugar e o mundo funciona bem demais!
Foram 90 anos e, na esperança de chegar ao 100, levo a vida com leveza e o sorriso de quem viveu como amava e como queria, na simplicidade da roça e do cuidado com a criação, e quem vive feliz por poder contar tudo isso com gratidão.