Esse é mais um causo que me contaram e aconteceu há certo tempo, quando a modernidade ainda não tinha chegado no interior.
Numa cidadezinha bem pequena, com ruas de chão batido e cercas de arame farpado para demarcar as propriedades, em uma casinha simples de pau a pique na Rua de Baixo, vivia o Sr. Sebastião Bonifácio. Tião era conhecido pela preguiça incomum.
Desde menino, Tião evitava de sair para brincar com as outras crianças, por estar com preguiça. Sua mãe lhe dava a comida nas mãos e tinha que levar a colher até a boca do menino. E foi assim até os seus 10 ou 12 anos, quando a senhora perdeu a paciência.
Quando rapazote, começou a trabalhar, mas o serviço não era pra ele… Sebastião passou por vários ofícios e nenhum deles resistiu ao seu desânimo natural.
Sem emprego e sempre com preguiça de fazer algo, o moço foi envelhecendo e contava com a ajuda de parentes e vizinhos que lhe davam o que comer e vestir. Tudo na mão, claro, para economizar sua pouca energia.
Já chegando à velhice, sua moleza só aumentava.
Um dia, seus amigos e parentes cansaram-se de levar tudo para o preguiçoso senhor da Rua de Baixo. Afinal, eles tinham que trabalhar para seu sustento e para o preguiçoso vizinho. Decidiram então pregar uma lição no Seu Tião, para ver se ele reagiria e mudaria de postura.
Sebastião então começou a ficar sem comida.
Os dias foram passando e o velho se enfraquecendo. Mas a sua lombeira era maior do que a vontade de levantar e trabalhar, comer ou qualquer outra coisa.
Passaram-se dias e, sem nenhuma notícia do Tião, os vizinhos e familiares reuniram-se na porta do velho para saber o que tinha ocorrido. Ao entrar na residência, viram o senhor descansando e se aproximaram… A preguiça, enfim, o teria matado?
_ Seu Tião? - perguntou a Dona Maria.
_ Sim… - sussurrou o velho.
_ O senhor está bem? - aproxima a mulher.
_ Sim… Só cansado… - fala a voz lenta.
Dona Maria sai porta a fora para contar à todos que o plano não deu muito certo. Nem a fome faz a preguiça do homem ir embora.
_ Tive uma ideia: vamos enterrá-lo? Por que não tem como ele não reagir assim! - exclamou Benício, jovem astuto e parente que em nada se parecia com o Sr. Bonifácio.
Todos os presentes toparam e seguiram o plano. Entraram na pequena casa, levantaram o senhor com lençol e tudo da cama. Parecia que ele não levantava de lá há dias. Amarraram cuidadosamente as pontas do lençol em um toco comprido de madeira, facilitando o carregamento do senhor. Dois homens fortes, um de cada lado, levantaram Tião e… iniciaram o enterro.
Todos cantando músicas fúnebres, com velas nas mãos, e o Seu Tião nenhum pouco preocupado com a situação de estar ainda vivo em seu próprio enterro.
Já próximo ao cemitério da cidadezinha, as pessoas começaram a se preocupar se teriam mesmo que enterrar o homem vivo. Dona Maria decide quebrar o silêncio e tentar resolver a questão:
_ Seu Tião! - grita a senhora, fazendo Sebastião apenas abrir os olhos, ainda com preguiça - Sei que o senhor tá sem comida há uns dias e trouxe um pote de arroz pra o senhor.
Tião levanta-se com calma e lento, olha para a Dona e pergunta:
_ Esse arroz tá cozido ou cru? - mexe a cabeça com lerdeza a procura da comida.
_ Tá cru... - responde esperançosa a senhora, já que o Seu Tião se interessou pela oferta.
_ Cru? - deita o senhor novamente - Então, segue o enterro!