Dica de leitura: Evangelho Segundo Jesus Cristo - José Saramago
Saramago nos ensina que deserto não é só aquele grande espaço cheio de areia e calor, é também. Mas analisando a palavra em sentido literal, se pensarmos bem, e como ele mesmo explica, deserto é tudo o que estiver ausente de gente, e ele nos adverte que essas ausências podem acontecer mesmo em meio a multidões. Essa sutileza de percepção, revelada em seu Evangelho Segundo Jesus Cristo, é uma revelação poética. Carrega um peso àqueles que acompanham-se de doses contínuas de solidão! Multidões lotam salas, bailes, festas, escolas, sítios, faculdades, redes sociais em suas infinidades, e ainda assim não há lugar, nem espaço, para aquele deserto em forma de gente que tanto carrega, tanto suporta, e que precisa desertificar-se para existir. Dizem que a cura para os males da cabeça, quando esta não funciona tão bem e traz dores de corpo e de alma, reside em ligar para uma pessoa querida, desabafar em alguma rede social, sair, tomar um sorvete, comer uma pizza, falar... E são soluções válidas, importantes, recomendáveis! Entretanto, existe o deserto e ele precisa ser encarado, é necessário aprender a andar em seu terreno às vezes áspero, doloroso, sofrido, pois os insights podem vir de fora mas as mudanças ocorrem por dentro na solidão e no acolhimento deste deserto que chamamos de eu. _30 de Julho de 2018_
